NÃO SÓ DE CÃO VIVE O
HOMEM
O relacionamento quase que simbiótico, ou de cooperação
mútua entre o homem e seus animais domésticos, vem tornando-os cada vez mais
semelhantes.
A inteligência, a cultura, vista sempre como privilégio, exclusivamente da espécie
humana, tem sido cada vez mais contestada por um crescente número de biólogos e
veterinários, que admitem a existência de traços de personalidade, de cultura e
de comportamento bem parecidos em animais geneticamente mais próximos do homem.
O cão convive com o ser humano há mais de dez mil anos, e, embora o gato tenha
sido domesticado há quatro ou cinco mil anos, não significa que a diferença de
tempo é determinante no grau de maior afinidade de um ou de outro com o seu
dono. É uma questão, apenas, de características animal, de comportamento social
e de estilo de vida.
O cão, tido como o maior amigo do homem, é dependente, exige mais a atenção,
dedicação, carinho, mas doa-se, perdoa e serve por extrema fidelidade e
obediência. A expressão pejorativa “vida de cão”, que significa um estilo de
vida difícil de uma pessoa, pode receber uma conotação ambígua, porque depende
do ambiente em que vive. Alguns são considerados membros de família, outros, no
entanto, são brinquedos, objetos descartáveis.
Mas nem só de cão vive o homem, pois existe o gato, que contrasta com o “fiel
amigo” por medir sua relação com o dono. É mais esperto, matreiro, mais
independente, autêntico, às vezes indiferente, o que lhe confere, erroneamente,
a designação de soberbo, arrogante, ingrato e, sobretudo misterioso, fortemente
associado a crendices absurdas. Mas mesmo agindo reservadamente, é meigo e
carinhoso, amável quando acariciado.
Presume-se que por agir de maneira discreta, recatada as pessoas fascinadas por
esse felino tenham traços marcantes de personalidade, na questão de segurança,
autoconfiança e de não-submissão.
O gato é higiênico, fazendo de sua língua as cerdas de uma escova e limpa com
assiduidade sua pelagem, mantendo-a sempre impecável. Obedece às regras da
casa, mas dorme aonde gosta. Quando macho, não castrado, tende a ter uma vida
mais solitária vagando por amplas extensões territoriais, enquanto que a fêmea
exibe uma vida mais social, gregária.
Geralmente os cães, quando abandonados, se deprimem, imploram pela atenção dos
transeuntes, e a luta em busca do dono, de água e alimentos, leva-os a exaustão
e acabam sucumbindo. Os bichanos, porém, sobrevivem às ásperas situações.
Como exímios caçadores, alimentam-se de pequenas presas quando desabitados. São
ágeis, curiosos, cuidadosos, de olfatos e audição aguçados, tato sensível, com
requintada visão noturna.
Embora dotados de grande agilidade, preferem as alturas, de onde observa o
ambiente com toda segurança e, ao contrário do cão, quase nada pede a quem não
o quer.
Por sua discreta beleza e elegância, os bem-apessoados recebem a sinonímia
carinhosa de gato ou gata, que dignifica a espécie. Já, pela sua esperteza e
ladinice, os larápios são denominados de gatunos, mas isso não o deprecia, o
gato não é otário.
Não importa, enfim, criticar e criar animosidades com os que contestam os
privilégios, as regalias que as duas espécies têm em detrimento às crianças
pobres. Quem gosta de animais, jamais nega auxílio a uma pessoa carente. Quem
detesta, geralmente não cuida de ninguém, nem de si, de seu próprio espírito.
O mais importante é que esses animais fazem partes de estudos a respeito da
prevenção e cura dos grandes males humanos dos tempos modernos, somente pela
presença e companhia. Com o tempo, o homem passará não somente a ter gratidão
por esses animais, mas, também, a dívida pela lição de humildade, de
desprendimento, de amor incondicional, e até, quem sabe, deixe de misturar amor
e ódio em seu coração